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É possível traduzir alétheia? Martin Heidegger e a questão da verdade v. I
v. 9 n. 2 (2024)Para Heidegger, desde os anos 20 do século passado, a tradução de ἀλήθεια por veritas/verdade, juntamente com o conceito formal de verdade como adequação do enunciado às coisas, tornou-se problemática e digna de ser questionada. Em Ser e tempo (1927) e na preleção Da essência da verdade (1930), Heidegger chega a defender que a verdade do enunciado deriva de uma “verdade” anterior, direta, situada no comportamento prático. Para conferir peso a esta tese, advoga um retorno aos gregos e não hesita em recorrer a Aristóteles, negando, categoricamente, que o Estagirita tivesse, alguma vez, defendido que o “lugar” originário da verdade fosse o juízo. Heidegger, por sua vez, traduz ἀλήθεια por desvelamento (Unverborgenheit), acentuando precisamente o caráter privativo presente no “alfa” inicial da palavra. Ao pronunciar ἀ-λήθεια, Heidegger acaba conferindo protagonismo ao velamento em detrimento do disponível e do manipulável, do que se pode sempre constatar, assegurar, comprovar. Em O fim da filosofia e a tarefa do pensamento (1964), porém, o filósofo alemão afirma que “a questão da Alétheia, a questão do desvelamento como tal, não é a questão da verdade. Foi por isso inadequado e, por conseguinte, enganoso denominar a Alétheia, no sentido da clareira, de verdade”. Tendo em vista a centralidade do conceito para todo o percurso de sua reflexão, as consequências de tal constatação são múltiplas e complexas. Em face dessa complexibilidade e com a proposta de refletir sobre o futuro do questionamento heideggeriano acerca da essência da verdade - diante notadamente dessa constatação central e tardia do próprio Heidegger - realizou-se, nos dias 16, 17 e 18 de abril de 2024, e com apoio dos Programas de Pós-graduação da UFRRJ, UFRJ e UFPB, o Simpósio Internacional “É possível traduzir ἀλήθεια? Martin Heidegger e a questão da verdade”, título orientador deste dossiê.
O Dossiê será dividido em dois volumes, nesse primeiro volume, autoras e autores, por meio de seus artigos, nos convidam a refletir e debater esses caminhos e possibilidades do questionamento heideggeriano acerca da essência da verdade. Abrindo a seção dedicada ao dossiê Acylene Maria Cabral Ferreira, no artigo Verdade, composição e realidade virtual, mostra e analisa como a interpretação heideggeriana sobre a constituição da técnica moderna ainda é válida para nos esclarecer como se estrutura, fenomenologicamente, a tecnologia contemporânea. Manuela Santos Saadeh, por meio de seu artigo Sobre o problema da Verdade no pensamento de Martin Heidegger, realiza uma breve exegese da investigação que o filósofo faz a respeito da questão da verdade demonstrando como Heidegger problematiza fenomenologicamente tanto a estrutura da própria verdade, como a sua possibilidade enquanto desdobramento histórico do pensamento. Em seu texto, Verdade e Liberdade, Robson Costa Cordeiro descreve como a liberdade, longe de ser pensada como algo pertencente ao arbítrio humano, é refletida como a essência da verdade, sendo a liberdade de deixar-ser, de estar aberto para o encontro com as coisas em seu próprio abrir-se, doar-se. Lucas de Moura Justino Souza, no artigo Da essência da verdade ao acontecimento apropriador: o comum pertencimento entre e ser e o ser-aí na filosofia de Martin Heidegger, propõe uma reflexão sobre o vínculo da essência da verdade e o acontecimento apropriador no pensamento tardio de Martin Heidegger. Rebeca Furtado de Melo, no trabalho Lugar e verdade: hermenêuticas pluritópicas e pensamento situado, questiona a importância do conceito de lugar(es) para a hermenêutica. A investigação propõe um desdobramento da filosofia tardia de Heidegger, na qual a noção de lugar ganha proeminência progressiva a partir de 1940, a fim de evidenciar o aspecto espacial da situação hermenêutica, muitas vezes eclipsado pelo foco na temporalidade. João Evangelista Fernandes, no artigo O papel do sonho poético na fundação histórica da verdade do ser, expõe como a co-originariedade entre verdade e poesia está relacionada à noção de sonho poético e seu papel na fundação histórica da verdade do ser a partir da arte, tal como aparece na interpretação que Heidegger faz do poema “Recordação”, de Hölderlin. Finalizando a seção do Dossiê, Marcio Tavares d’Amaral, no texto Desvelamento por alétheia: o problema é de tradução?, pensa o termo alétheia a partir da interpretação, de inspiração heideggeriana, de alguns fragmentos de Heráclito, com o objetivo de tentar compreender um momento da história da verdade cujo “sujeito” foi o Real ele mesmo, e, a partir dessa reflexão, iluminar o momento atual da pós-verdade.
Ainda nessa edição, na seção fluxo contínuo, René Dentz, por meio de seu artigo A Complexidade do Ódio e a Paradoxal Busca pelo Perdão, aborda a intersecção entre psicanálise, filosofia e teologia ao explorar os conceitos de ódio e perdão em relação ao Outro. O ódio é examinado como uma emoção complexa que transcende o indivíduo, revelando-se como uma dinâmica social e política enraizada na relação com o Outro. Por outro lado, o perdão é apresentado como uma possibilidade paradoxal diante do imperdoável, desafiando noções tradicionais de transação e arrependimento. O perdão genuíno é entendido como uma abertura para o impossível, marcada pela capacidade de reconhecer a alteridade do Outro e praticar a hospitalidade como expressão da razão universal. Na seção de tradução, Leonardo Moreira Gomes oferece a versão em língua portuguesa do texto de Francesc Torralba intitulado Techno-progressives versus bio-conservatives. Nele, o autor busca apresentar o debate intelectual entre tecnoprogressistas e bioconservadores. A análise sobre o conflito entre as duas escolas é realizada através do exame de seus respectivos argumentos, além de explorar a possibilidade de encontrar um meio-termo entre as posições.
Agradecemos a todas e todos que contribuíram para a realização desse volume da Revista Enunciação e desejamos a todas e todos uma boa leitura.
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Dossiê Antropoceno
v. 9 n. 1 (2024)A Subcomissão de Estratigrafia Quaternária da União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS) concluiu recentemente que ainda não podemos afirmar que vivemos no Antropoceno. Essa decisão técnica teve como fundamento o fato de não haver um evento geológico de referência que marque a mudança do atual período geológico, o holoceno, para o antropoceno, embora alguns cientistas, como o próprio presidente da SQS Jan Zalasiewicz, sustentem que o Lago Crawford, no Canadá, que apresenta marcações de eventos antropogênicos, como experimentos atômicos, poderia sustentar a nova tese geológica. Apesar da rejeição da oficialização do antropoceno como novo período geológico, isso não significa que o impacto das ações humanas sobre o planeta seja algo que se possa ignorar. As mudanças climáticas e as catástrofes decorrentes de seus efeitos são reais, independentemente da mudança na nomenclatura de nossa época geológica.
Na última década, o Brasil passou por eventos extremos de secas, como a que atingiu a região amazônica em 2023, e de chuvas, como os desastres que ocorreram em Petrópolis (RJ) em 2022 e em 2023. Neste momento, é o Rio Grande do Sul que sofre com o maior desastre socioambiental de sua história devido às chuvas extremas que atingiram o estado no início de maio de 2024. De acordo com o cientista do clima Carlos Nobre, não há registros sobre tamanho volume de chuva em tão curto período na região. Em menos de 15 dias choveu mais que 800 milímetros em 60% do território do estado, o que equivale ao acumulado médio de 5 meses. Esses eventos extremos, de acordo com os cientistas, possuem relação direta com o aquecimento do planeta causado pela emissão de CO2 na atmosfera.
A urgência da questão ambiental transforma a ideia de antropoceno em ferramenta necessária ao pensamento para enfrentar os desafios políticos e existenciais do tempo das catástrofes, como diria Isabelle Stengers. Os artigos aqui reunidos refletem sobre essa urgência, a mais grave do nosso tempo.
Editora: Michelle Bobsin Duarte
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Revista Enunciação - v.8, n.2 (2023)
Dossiê Mulheres na Antiguidade
É com grande alegria que apresentamos este número da revista Enunciação dedicado às mulheres da Antiguidade.
Ao longo da história da Antiguidade, as mulheres normalmente foram silenciadas, obrigadas a ocupar a sombra, a margem, o interior das casas. No entanto, poetisas, filósofas, sacerdotisas, guerreiras, oradoras e políticas estão por toda a parte no mundo antigo. O que propomos com esse dossiê é deixar essas mulheres falarem para que possamos construir, a partir de suas falas, o retrato de suas ações, de seus argumentos, de suas críticas, enfim, do mundo no qual viveram. Nossa intenção é ouvi-las novamente, fazer com que suas ideias e ações circulem e sejam objeto de reflexão.
Nosso dossiê começa na Mesopotâmia, com Enheduanna, a mais antiga escritora de que temos conhecimento, passa por deusas e personagens míticas, como as Amazonas, Pandora, Io, Deméter, Helena, Tétis, Cassandra, Ariadne e Fílis, chega na poetisa Nóssis de Locri e na filósofa pitagórica Teano, para fechar com a sofista Aspásia de Mileto, sem deixar de refletir sobre o principal lugar de atuação das mulheres na Grécia, o gineceu.
Com esse dossiê, realizamos dois desejos: falar das mulheres da Antiguidade e reunir pesquisadoras e pesquisadores das mais variadas áreas que trabalham com essas mulheres. Um pequeno passo visando aproximar as diferentes áreas no grande universo dos Estudos Clássicos.
Desejamos uma ótima leitura!
Editoras do dossiê: Alice Haddad e Cristiane Azevedo
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Revista Enunciação - v.8, n.1 (2023)
Dossiê Concepções do humano hoje
Se um dia Kant quis sintetizar em uma quarta questão, “O que é o ser humano?”, o sentido de suas três grandes questões (“O que posso saber?”, “O que devo fazer?”, “O que me é permitido esperar”?), o século XX viu a antropologia filosófica perder a ingenuidade da posição de seus problemas. Embora tenha sido um século fecundo para a disciplina (por exemplo, na tradição fenomenológica), foi também a época em que, por diversas razões, se impôs a suspeita sobre a possibilidade de se responder de modo enfático à questão “O que é o humano”. Depois da morte de Deus declarada no século anterior, foi a vez da declaração de morte do homem. Do questionamento teórico do humanismo à desumanização ocorrida na prática, da denúncia do humano como universal ideológico à proposição da identidade interseccional, da crítica ao especismo às aspirações do pós-humano e ao antropoceno como ameaça do fim existencial da espécie: o deflacionamento da pergunta “o que é o humano” e a dessubstancialização do próprio ser humano não interditam, todavia, a disciplina, mas antes a tornam mais relevante. Os desenvolvimentos dos campos do saber cujo objeto é o humano, da antropologia (a ciência social) às neurociências, passando pelos estudos de gênero e raciais, atualizam não apenas a questão sobre o que é o humano, mas também aquela sobre o que ele não é.
Abrindo nosso dossiê, Maria Cristina Longo Cardoso Dias e Márcia dos Santos Fontes, em “A crítica feminista ao humano universal”, esmiuçam, a partir de pensadoras como Spelman, Saffioti, González e Federici, as implicações ideológicas entre o universal “humano” e a sua parte, o homem, remetendo a formação do conceito de humano ao dualismo hierarquizado entre razão (dita masculina) e corpo (dito feminino).
Em “Castoriadis e a significação antropológica e política da tragédia”, Sérgio Dela-Sávia mostra como a tragédia grega e o imaginário nela consubstanciado inspiram o francês Cornelius Castoriadis em sua concepção antropológica. Dela-Sávia mostra como a consciência da desmesura do homem expressa na tragédia implica na necessidade democrática de impor-se uma lei, instituindo-se a si próprio como anthropos.
Em seguida, Bruno Daemon Barbosa reavalia o embate entre Foucault e Derrida ao redor dos argumentos do primeiro sobre o lugar da filosofia de Descartes na história da loucura. Em “Foucault leitor de Descartes e a crítica de Derrida”, trata-se de verificar se oargumento do cogito é representativo do silenciamento da loucura e da desrazão que desponta na modernidade, ou depende, ao contrário de uma consideração filosófica que as inclui e com elas dialoga.
Paulo Eduardo Bodziak Junior, em “Reflexões sobre medo e esperança em no prólogo de A condição humana”, mostra como Hannah Arendt pensa nossas formas de temporalização a partir daquele par de afetos. Pelo medo e pela esperança, antecipamos de algum modo nosso futuro. As consequências políticas desse fato na época inquieta em que Arendt redige seu livro são o objeto das reflexões de Bodziak.
Em “Questions and problems left by Kant to think about the contemporary crisis of human rationality”, Lucas Ribeiro Vollet passa em revista uma série de questões que considera terem sido deixadas em aberto na epistemologia kantiana, equacionadas pelo autor, mais amplamente, a certas aporias de nosso tempo e a uma crise diagnosticada na racionalidade humana em geral.
Com recurso a Bakhtin e Lacan, Maria Rubia Rodrigues Freitas, em seu “A enformação do sujeito pela palavra amorosa do outro”, destaca as implicações da palavra de amorosa na constituição do sujeito pela linguagem, particularmente na primeira infância. Pensando o amor a partir da dialética maussiana do dom e do contradom, que o projeta para além da noção de desejo, Freitas conclui que “o amor (...) vive dentro da palavra falada”.
Repassando os nove fragmentos de Heráclito onde ocorre o polissêmico termo λόγος e o estado da arte sobre seu significado naqueles contextos, Rodrigo Figueroa Corona, em seu “Heráclito y el logos”, demonstra a complexidade da tradução e da compreensão do vocabulário do Obscuro de Éfeso, legado a toda a tradição filosófica ocidental.
Fechando o dossiê, “Logidion: anatomie d’um “petit discours”, de Marco Donato, examina, por sua vez, as ocorrências da expressão-título, diminutivo de lógos, em Aristófanes, Isócrates e Pseudo-Platão. Donato conclui que a expressão designa, na época clássica grega e no período helenístico, a argumentação capciosa da erística.
Desejamos boa leitura!
editores do número: Luiz Philipe de Caux e Edson Peixoto de Resende Filho
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Revista Enunciação - v.7, n.2 (2022)
Dossiê O Belo e as Virtudes
Em nossa sociedade industrial, massificada, preocupada com elementos reprodutíveis, o belo é visto como algo dissociado das ações humanas cotidianas. Estas são entendidas como úteis ou convenientes, enquanto o belo é deslocado para os palcos e salões, isolado de qualquer interesse diuturno. A revista Enunciação publica o dossiê temático O Belo e as Virtudes para se contrapor a essa interpretação e refletir sobre a conexão entre a beleza e as ações humanas. O presente número é composto de oito artigos originais e da resenha do livro de Nelson de Aguiar Menezes Neto: "A poética da mímesis e a composição dos diálogos platônicos", escrita por Luiz Otávio Mantovaneli.
O artigo inaugural da edição é de Francisco José Dias de Moraes: "Kalón, virtude e eudaimonía em Aristóteles". Em seu texto, Francisco enfrenta o desafio de compatibilizar a vida contemplativa com as virtudes éticas. O conceito fundamental para essa junção é o Kálon. Para isto, Francisco utiliza o exemplo emblemático da virtude da coragem, que, numa primeira leitura, revelaria o conflito intransponível entre o prazer que caracteriza as virtudes éticas e a compreensão do perigo mortal que é o fio da espada do inimigo. A solução está no compromisso que o combatente fez com os vivos e na desonra que procura evitar ao se manter firme no campo de batalha.
No artigo seguinte, "O desejo livre em Aristóteles", Juliana Ortegosa Aggio argumenta que o desejo virtuoso, em Aristóteles, caracteriza-se pela plena liberdade. Não há coação ao se desejar o bem. Ao contrário, o desejo virtuoso, como sustenta Aggio, é o desejo mais livre de todos. A coerção se dá por agir em conformidade com uma norma, abstendo-se de sua própria razão; ou quando se busca o prazer. A ação virtuosa é distinta justamente porque nela o prazer e o bem coincidem e não há mera obediência a uma regra.
Em "Pode o virtuoso não agir virtuosamente em Aristóteles?", Reinaldo Sampaio Pereira argumenta, diante do difícil problema da liberdade da ação do agente virtuoso, que a disposição do caráter não necessariamente implica que as ações concordem com tal disposição. Essa leitura não determinista possui a vantagem de evitar o esvaziamento da deliberação e da escolha, elementos fundamentais da ética aristotélica.
Em seu texto, "O belo na virtude da integridade em Aristóteles: réplica ao intelectualismo moral", Brunno Alves afirma que a integridade, diferente daquilo que defendem os intelectualistas, é uma virtude moral, nos termos de Aristóteles, o que a distingue de uma virtude intelectual. A conclusão é que o agente íntegro não age para preservar sua coesão interna, mas em nome da felicidade da comunidade política. O belo que o virtuoso almeja é a integridade da pólis.
Gabryela Schneider Gonçalves sustenta, em "A virtude da justiça e sua relação com o belo", que às virtudes pertencem ao ordenamento humano e não divino. O texto trabalha a relação da virtude da justiça com as leis e como o vício da pleonexia representa um obstáculo para a realização desta virtude. Gabryela explora as implicações políticas para essa noção de justiça, contrapondo-a ao sentido corrente, de origem liberal-democrática, de convivência entre cidadãos atomizados.
Em "Perfeição, emulação e morte: a beleza da vida pelo Amor (Eros) verdadeiro segundo o discurso de Fedro", Pedro Baratieri explora a ideia de “morrer-pelo-outro” a partir do discurso de Fedro no Banquete de Platão. Segundo Pedro, Fedro entende o Eros como uma busca que os amantes empreendem para serem honrados um ao olho do outro, o que os permitiria aperfeiçoar-se continuamente. A análise de Pedro sublinha o elogio que Fedro faz de Eros por tornar a vida bela e como o Eros se relaciona com as ideias de verdade e de justiça.
Messias Nunes Correia recupera o pensamento do filósofo britânico Roger Scruton sobre a centralidade do belo para a realidade como um todo e a existência humana, em particular. Em "O Belo e a Arte: Dor e Consolação na Estética de Roger Scruton", Messias demonstra o mesmo espanto que Scruton diante da arte contemporânea, que rejeita sistematicamente a beleza em nome de uma sociedade caótica e plural.
Em "A Paródia Sublunar: Paul Veyne, seus pensamentos, suas pessoas", Gustavo nos convida a pensar a nossa relação com os autores em geral e questiona a noção de referente. O raciocínio o leva a problematizar o princípio da identidade, ao menos, no que diz respeito à historiografia filosófica. Para isto, Gustavo utiliza o gesto elegíaco apresentado por Paul Veyne.
Por fim, Luiz Otávio Mantovaneli nos oferece uma resenha da obra de Nelson de Aguiar Menezes Neto: "A poética da mímesis e a composição dos diálogos platônicos". Segundo Luiz, a obra de Nelson Aguiar explora a dramaticidade dos diálogos platônicos e traz ao primeiro plano a figura de Platão como poeta.
Espero que os textos publicados nesta edição estimulem os leitores a pensar sobre a centralidade do belo ao longo da nossa vida. Nossas ações só parecem ser compreensíveis quando nos apropriamos dessa noção elevada, nobre, que engrandece a existência. Desejo a todos uma ótima leitura!
organizadores do dossiê: Francisco Dias de Moraes e Mário Maximo
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Revista Enunciação - v.7, n.1 (2022)
Os trabalhos que compõem este segundo volume da Revista Enunciação, e que trazem consigo também o mesmo tema do volume anterior, deixam transparecer uma inquietação radical que atravessa o humano, de maneira a propiciar um diálogo fecundo com o que há de mais arcaico em cada um de nós, a saber, a possibilidade da linguagem. Diante disso, atravessados pelo tema, o propósito dos textos que se seguem é simplesmente o de promover uma aproximação com as questões extraídas dele mesmo, visando um acontecimento a partir do qual a própria linguagem, desde a pergunta pelo seu sentido (ou pelos seus sentidos), possa permitir um encontro em que a simplicidade de seu aparecer venha à fala.
Editores responsáveis pelo número: Affonso Henrique Vieira da Costa e Gilvan Fogel
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Revista Enunciação - v.6, n.2 (2021)
Os trabalhos que compõem este volume da Revista Enunciação, que o leitor tem agora em mãos, versam sobre um tema inquietante, articulado desde os primórdios do pensamento, com o sentido mais próprio do que é o homem. Trata-se de ir ao encontro do que é a linguagem. As perspectivas das quais eles partem não se assentam em nenhuma espécie de cientificismo, antes procuram do tema se aproximar, não o isolando, como se estivesse fora do mundo, mas sabendo, no percurso de seu desenvolvimento, das imensas dificuldades que ele impõe quando verdadeiramente se intenta pensá-lo. Diante disso, fica por suposto, que, com os trabalhos aqui dispostos, o propósito não é, de maneira alguma, dar conta do problema – isso é impossível e apenas tal intenção já incorreria numa desmedida sem par –, mas, sobretudo, propiciar uma aproximação e um debate em torno do mesmo a partir da pergunta simples, porém decisiva: Que é a Linguagem?
Editores responsáveis pelo número: Affonso Henrique Vieira da Costa e Gilvan Fogel
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Revista Enunciação - v. 6, n.1 (2021)
Atualmente, postula-se que a humanidade tenha se tornado uma agência geológica devido ao alcance de nossas ações via tecnologia, vivemos a Era do Antropoceno. Nossa situação é marcada pela constatação do possível comprometimento das condições de existência e manutenção da teia da vida no planeta, caso continuemos a nossa marcha de consumo depredador e de emissões de gases de efeito estufa. A aniquilação massificada da vida já é uma realidade, se considerarmos o fato de vivermos a sexta extinção em massa, que tem como causa a ação humana. No dramático cenário contemporâneo, o pensamento de Hans Jonas se mostra profícuo justamente por trazer reflexões filosóficas sobre as modificações do poder de ação humana via técnica moderna e a necessidade de se pensar uma ética que corresponda ao novum da tecnologia contemporânea. Além disso, Jonas nos propôs uma compreensão do fenômeno da vida que reconhece a dignidade de todos os viventes, ao mesmo tempo que concebe o ser humano como parte de um sistema maior que deve ser preservado para que haja vida humana e não humana no futuro. Os autores e autoras do presente dossiê são pesquisadores e pesquisadoras especialistas no pensamento do filósofo, os quais fazem parte do GT Hans Jonas na ANPOF e do Grupo de Pesquisa Hans Jonas do CNPq.
Editora responsável pelo dossiê: Michelle Bobsin Duarte
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Revista Enunciação - v. 5, n.2 (2020)
Um dossiê que verse sobre filosofia africana, relações étnico-raciais e estudos decoloniais e pós-coloniais, insiste em perguntar, não exatamente, “o que é a filosofia?”; mas, “o que pode a filosofia?” Ou ainda, quais as potências da filosofia que promovem a descolonização do pensamento? Como a filosofia tem dialogado com as outras areas do campo das Humanidades? Para enfrentar essas perguntas, foi organizado o presente dossiê, após o encontro de três pesquisadores interessados em problematizar algumas convicções do pensamento colonial, em diálogo com a filosofia. Reuniram-se então, Renato Noguera, doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia (PPGFIL) e do Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares (PPGEduc) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Sergio Luis Nascimento, graduado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR (1998), mestre e doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente exerce docência pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná e na Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR; Alexandre de Oliveira Fernandes (Alexandre Osaniiyi), Doutor em Ciências da Literatura (UFRJ) e professor de Língua Portuguesa e Literatura do IFBA, professor do Programa de Pós Graduação em Relações Étnico-Raciais (PPGREC) da Universidade do Sudoeste da Bahia (UESB) e do Programa de Pós-Graduação em Letras, Linguagens e Representações (PPGL) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), onde desenvolve e orienta pesquisas nas áreas de Literatura, Gênero, Estudos Queer, Culto aos orixás, Epistemologias Dissidentes.
Por ocasião de conversas a respeito dos impactos do pensamento de Frantz Fanon nos rumos da filosofia, decidimos reunir alguns artigos que de modo direto ou indireto pudessem articular de modo interdisciplinar, transdisciplinar ou multidisciplinar a filosofia Africana com estudos decoloniais e/ou pós-coloniais e as relações étnicoraciais.
Alexandre de Oliveira Fernandes
Renato Noguera
Sergio Luis Nascimento
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Revista Enunciação - v. 5, n.1 (2020)
Stásis é uma palavra de difícil tradução. Difícil não perceber quão insuficientes são as traduções usuais por “revolução”, “discórdia”, “dissensão”, “guerra civil”. O pensamento político grego, de Tucídides a Aristóteles, passando por Platão, sempre relacionou o termo stásis a um momento decisivo na pólis: origem de mudanças e de violência que atingiriam a todas as vidas na comunidade política. Em razão disso, ainda que se tratasse de um péssimo governo, a ruptura representada pela stásis foi sempre recusada, como alternativa política válida, pelos pensadores antigos. Recentemente, graças aos estudos da historiadora Nicole Loraux, o termo tornou-se objeto de renovadas reflexões, motivadas pelo revisionismo histórico, que enxergou na stásis o equivalente positivo da luta de classes e do anseio revolucionário das classes populares por igualdade, no sentido de uma crescente democratização. Filósofos contemporâneos, como Giorgio Agamben, inspirados pelos trabalhos da historiadora, empreenderam novas tentativas de elucidação do fenômeno, em diálogo com filósofos modernos, como Thomas Hobbes, e teóricos da política, como Carl Shmitt. O interesse pelo tema, para nós brasileiros, vai muito além de um interesse meramente historiográfico. Procuramos nos pensadores gregos elementos que nos permitam compreender a realidade perturbadora que vivemos hoje, marcada pela deterioração da democracia e pela escalada de práticas e discursos de caráter assumidamente autoritário. Quem pensa diferente de “nós” logo é encarado como o inimigo a ser aniquilado, “cancelado”, e não como o adversário de quem podemos perfeitamente divergir. Por outro lado, em tempos de stásis, parece aumentar enormemente a participação política e o anseio por novas formas de representação. Estaremos a caminho de uma maior democratização? É apenas a democracia liberal que entrou em colapso ou estamos vivenciando a derrocada da própria política e sua substituição por um poder autocrático? Podemos dispensar toda forma de concórdia, de amizade entre cidadãos, e substituí-la pelo facciosismo? A questão do bem viver pode ser alijada da esfera das decisões políticas, restando apenas a preocupação com a sobrevivência? A política pode ser reduzida à mera disputa pelo poder entre grupos facciosos ou, para além dessa disputa, podemos pensá-la em conjunto com a promoção das virtudes? A categoria de bem comum tem ainda algo a nos dizer atualmente? Essas e outras questões foram tematizadas e discutidas no evento sobre a stásis promovido pelo PPGFIL/UFRRJ e pelo grupo de pesquisa Zétesis nos dias 27 e 28 de agosto de 2019. O dossiê é o resultado direto do evento e reúne artigos dos pesquisadores que dele participaram, apresentando as suas comunicações.
O presente número da revista Enunciação, que prontamente aprovou a publicação deste dossiê, conta também com a contribuição de artigos submetidos ao fluxo contínuo, razão de publicarmos, na parte final do volume, artigos que nos brindaram com reflexões acerca da relação entre a morte e o sono entre os antigos, sobre a noção de paradigma em Platão e sobre a origem das ideias abstratas nos filósofos empiristas britânicos.
Editores responsáveis: Admar Costa e Francisco Moraes
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Revista Enunciação - v.4, n.2 (2019)
O presente número da Revista Enunciação foi organizado pelos professores Alessandro Bandeira Duarte e Robinson Guitarrari, líderes do Núcleo de Lógica e Filosofia da Ciência (NuLFiC). Encontram-se nele artigos relacionados à lógica, filosofia da linguagem e filosofia da ciência que foram escritos por professores e pesquisadores das seguintes universidades: UFMG, UFOP, UFAM, UFPE, PUC-Rio, UFJF, UNIFESP, UERGS, USP.O primeiro artigo intitulado A definição de verdade de Tarski de Abilio Rodrigues (UFMG) e Guilherme Cardoso (UFOP) apresenta, de forma tecnicamente acessível, a definição tarskiana de verdade e o teorema da indefinibilidade da verdade. Além disso, são discutidas a viabilidade dessa noção como capturando a noção de verdade por correspondência e as objeções de Kripke. Em Notas sobre quantificação irrestrita e semântica clássica, segundo artigo desse número, André Pontes (UFAM) discute a possibilidade de legitimação da quantificação irrestrita dentro da lógica clássica, passando por temas importantes tais como paradoxo do mentiroso e paradoxo de Russell. No terceiro artigo intitulado Simplicidade, caráter de regra e inserção em práticas, Luiz Henrique da Silva Santos (PUC-Rio) e Marcos Silva (UFPE) discutem a noção de logicamente simples em Frege e Wittgenstein, apresentando uma série de objeções. Além disso, propõem uma solução pragmática para lidar com os problemas levantados. Em Rudimentos de semântica modal para fórmulas abertas, Luciano Vicente (UFJF) apresenta uma interpretação para sentenças abertas numa lógica modal de predicados S5, trabalhando com dois tipos de atribuições: 1) atribuições absolutas e 2) atribuições relativas. No quinto artigo intitulado Brahe e Kepler: o desenvolvimento do copernicanismo, Claudemir Roque Tossato (Unifesp) discute duas influências sobre o desenvolvimento do copernicanismo: 1) as observações astronômicas de Tycho Brahe; e 2) a nova abordagem matemática que tinha sido proposta por Kleper. Em Controversias en la filosofia moderna sobre el valor de las humanidades, Jorge Alberto Molina (UERGS) busca descobrir as raízes históricas de alguns ataques contemporâneos às ciências humanísticas e seu texto é fundamento em três autores da modernidade: Bacon, Descartes e Vico.No artigo Three problems with Kuhn’s concept of “crisis”, Paulo Pirozelli examina criticamente como Thomas Kuhn apresenta a noção de crise no interior da sua concepção de desenvolvimento científica, considerando sobretudo The structure of scientific revolutions e The essential tension, além de artigos posteriores em que o tema reaparece. Como as crises kuhnianas são distinguidas das anomalias? As crises estão relacionadas ao cientista individual ou à comunidade científica? E, por fim, que papel as crises cumprem para gerar revoluções científicas? É ela uma condição necessária para que uma revolução científica aconteça ou se trata apenas de um ponto comum aos processos de mudança científica profunda? Ao tratar das dificuldades das possíveis respostas a essas questões, Pirozelli expõe um problema a ser resolvido para quem aceita a perspectiva kuhniana.Por fim, Caetano Ernesto Plastino, em Crise e formação de consenso na ciência segundo Kuhn, avalia a contribuição de Kuhn para uma explicação racional do processo de formação de consenso, considerando o processo de mudança a partir da crise que envolve cientistas e o paradigma vigente. O desdobramento do artigo indica que não é pertinente a crítica de Laudan, segundo a qual Kuhn não é capaz de fornecer uma explicação para a formação de consenso, como não é pertinente a acusação de Laudan de que o quadro de desenvolvimento científico defendido por Kuhn implica que o cientista se enreda num solipsismo que se autorreforça. A ideia defendida por Caetano é que Kuhn apresentou, ainda que não detalhadamente, uma explicação racional para a mudança de paradigma.
Organizadores do número: Alessandro Bandeira Duarte e Robinson Guitarrari
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Revista Enunciação - v.4, n.1 (2019)
A presente edição da Revista Enunciação traz ao público artigos de participantes do 42os Encontros Nietzsche, o primeiro realizado em uma universidade da baixada fluminense, no belo campus de Seropédica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Organizado pelos professores da UFRRJ Danilo Bilate e José Nicolao Julião, o evento foi promovido pelo Grupo de Pesquisa Humanismo e pelo Grupo de Estudos Nietzsche (GEN). Esta edição publica, além de textos de palestrantes professores doutores já prestigiados no universo brasileiro de estudos nietzschianos, dois textos de mestrandos do PPGFIL-UFRRJ, que apresentaram comunicações no mesmo evento, o que evidencia o caráter democrático do periódico, bem como a opção consciente e engajada de permitir-lhes o acesso ao público que lhes é merecido. Fecha a edição uma resenha sobre a publicação francesa dos poemas de Nietzsche.
A escolha para a capa da gravura renascentista de Albrecht Dürer, O cavaleiro, a morte e o diabo, de 1513 não tem nada de acidental. Muito admirada por Nietzsche, foi por ele dada de presente a Richard Wagner (como demonstra uma carta às suas irmã e mãe de 23 de dezembro de 1870) e a sua irmã, como presente de casamento (como sugere carta a Overbeck de 7 de maio de 1885). Inversamente, foi ele presentado com uma cópia da mesma por Adolf Vischer, pelo que Nietzsche demonstra bastante alegria em cartas à sua mãe (12 de março de 1875), à sua irmã (26 de março de 1875) e, por último, à Malwida von Meysenbug (pouco após 20 de março de 1875), onde ele lembra ter relacionado a figura do cavaleiro a Schopenhauer – e isso, sabemos, em O nascimento da tragédia, §20: “Nosso Schopenhauer foi esse cavaleiro de Dürer: toda esperança lhe faltava, mas ele desejava a verdade”.
De muitas interpretações possíveis – como a mais usual, que a relaciona ao Salmo 23, como o próprio Vischer sugeriu no verso de seu presente –, preferimos compreendê-la como um símbolo de coragem trágica daquele que escolhe enfrentar, altivo, as vicissitudes terríveis da vida. Mais do que uma exortação do amor fati ou do pessimismo da fortitude – Nietzsche a considerava como “símbolo de nossa existência” (fragmento póstumo 9[85] de 1871) –, ela serve para representar, com muita modéstia, a opção por pensar criticamente, a despeito do sombrio contexto histórico que é o nosso. Como as possibilidades de interpretação são variadas, que fique ao caro leitor o convite para sugerir o personagem que quiser tanto à morte quanto ao diabo.
Editor responsável: Danilo Bilate
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Revista Enunciação - v.3, n.2 (2018)
Este volume de Enunciação apresenta artigos de pesquisadores de universidades públicas, nacionais e internacionais. Sua temática tem como foco a filosofia antiga e um de seus desdobramentos na filosofia medieval. No texto de abertura, Alonso Tordesillas investiga as relações entre temporalidade e o acesso à ideia do Belo através do conceito platônico de exaiphnês, em particular no Banquete 210e. O filósofo argumenta que o ‘subitamente’, mesmo sendo um momento distinto em um processo no qual conhecemos algo, não pode ser pensado como separado deste; contrariando assim a interpretação tradicional, que, ao isolá-lo de seu contexto dialógico, o tem como conceito metafísico supremo, ‘fora do tempo’. No texto seguinte, Michele Corradi nos conduz pelos meandros das relações complexas entre literatura e filosofia, ao correlacionar o tipo de comunismo presente na Assembleia das mulheres de Aristófanes e suas relações com a forma de comunismo que Sócrates está propondo na Calipolis para os guardiães na República de Platão. M. Corradi, através de extensa e detalhada análise, nos mostra como a habilidade em criar analogias faz parte de uma ‘estratégia complexa’, ao mesmo tempo, literária e filosófica de Platão. No terceiro artigo, Edson P. de Resende sustenta que o começo da Metafísica 4 a 10-18 de Teofrasto, a aporia inicial da conexão entre sensível e inteligível, bem compreendida, pode indicar também novas pistas para interpretar, uma das muitas frases enigmáticas do livro Lambda, a frase final de Lambda 1. Na quarta contribuição, José Nicolao Julião revisita a clássica passagem da Poética 9 de Aristóteles, onde podemos ler a tese da ‘superioridade’ da poesia em relação à história. Ao fazê-lo, nos convida a repensar a ‘superioridade’ a partir de outro olhar conceitual. No aporte seguinte, Luciano Torcione Serra rastreia todo o campo da filosofia antiga, incluindo seus extremos, de Homero a Agostinho, para acompanhar as variações e oscilações de sentidos do quase-conceito de inclinação. No sexto artigo, Luiz Otávio Mantovaneli, partindo da teoria aristotélica das emoções, busca lançar uma nova luz no Éleos de Aquiles. No sétimo artigo, Lucio Lauro B. Massafferri Salles, a partir de um mapeamento investigativo das ocorrências do phármakon na medicina grega antiga e na ‘retórica’ de Górgias, traça as proximidades entre medicina e filosofia encontradas na Grécia Clássica. Na sequência anunciada, Markos Klemz argumenta que uma leitura fisicalista da relação entre cognição e a modificação fisiológica na sensação, diferentemente da leitura tradicional que se apoia na noção de recepção espiritual, não acarreta nenhum grau de dualismo à teoria tomista da percepção sensível. Este volume traz ainda para seus leitores uma tradução de um artigo de Pierre Aubenque, onde, mais uma vez, ele retorna, com novos argumentos, à tese do caráter aporético da metafísica de Aristóteles.
Boa leitura!
Edson Peixoto de Resende Filho
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Revista Enunciação - v.3, n.1 (2018)
Os trabalhos de todos os que aqui se propuseram a escrever, de alguma maneira contribuindo com as suas exposições aos acenos do filósofo, encontram-se nas margens de Heidegger, em uma aproximação com o texto apresentado por Chuang Tzu em A alegria dos peixes. Dissemos “nas margens” no sentido de uma intro-dução ao movimento de participação de seu pensamento. Se for verdade que homenageamos um pensador pensando com ele, junto a ele, provavelmente os textos aqui dispostos em ordem alfabética possam dizer melhor do que algumas breves palavras de apresentação.
Cabe aqui, ainda, um agradecimento à Prof.ª Dr.ª Márcia Schuback que, ao enviar a fotografia dos peixes junto com seu texto e ao mencionar o poeta/pensador Chuang Tzu, de maneira a trazer para nós a lembrança da grandeza do pensamento de Frei Hermógenes Harada (ofm), falecido em 2009, permitiu que nos apropriássemos dessa sua ideia e compuséssemos a capa de nossa revista.
Editores responsáveis pelo número : Affonso Henrique Vieira da Costa (UFRRJ), Edgar Lyra (PUC-RJ) e Gilvan Fogel (UFRJ)
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Revista Enunciação - v.2, n.2 (2017)
Este número temático da Revista Enunciação reafirma os intentos do Grupo de Pesquisa Humanismo em discutir e apresentar reflexões a respeito da "Filosofia das Luzes" através de artigos de pesquisadores brasileiros e franceses. Nesse sentido, os textos reunidos neste número podem ser divididos, a partir daquele eixo mais geral, nos seguintes ramos temáticos: a questão política, com os textos de Knüfer e Pujol; a questão da mulher, com os textos de Balieiro e Marques-Pujol; a questão da Filosofia, com os textos de Becker e Mota; o pensamento de Holbach, com os textos de Kawauche e Primo; o pensamento de Voltaire, com os textos de Bilate e Métayer e, finalmente; o pensamento de Bayle, abordado no artigo de Gros e com a inclusão da tradução do verbete “Esclarecimento”, escrito do próprio Bayle.
Em tempos difíceis como o nosso, esperamos que o nosso coletivo possa materializar a metáfora estabelecida por Paul Hazard, quando se refere ao pensamento do século XVIII e, dessa forma, represente as luzes não através de um único raio; mas, sim, em um feixe que se projete sobre as grandes massas obscuras que atacam, diuturnamente, a nossa democracia. Agradecemos, então, aos "raios luminosos" que, agrupados nos artigos aqui reunidos, formam o nosso feixe de resistência e, por fim, bradamos, com Voltaire: "Esmagai a Infame!"
EDITORES RESPONSÁVEIS: Christine Arndt de Santana & Danilo Bilate
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Revista Enunciação - V. 2, N.1 (2017)
Este segundo número da revista Enunciação presta uma homenagem ao professor Marcelo Pimenta Marques que nos deixou tão precocemente no ano passado. Para nós, é uma grande honra poder reunir alguns dos professores, amigos e orientandos de Marcelo para lhe prestar esta homenagem que se torna pequena ao pensarmos em tudo que realizou, representa e continuará representando para todos. Marcelo esteve à frente da coordenação do GT de filosofia antiga da Anpof por muitos anos e contribuiu enormemente para o fortalecimento da área no país. Todos que tiveram o prazer de conviver com ele têm, sem dúvida, uma história de cuidado, de atenção, de riqueza intelectual e pessoal para contar. Por trás de seu jeito simples se revelava sempre um grande pensador e uma pessoa sempre generosa, enfim, um exemplo a ser seguido. Para prestarmos esta homenagem, sugerimos aos autores a temática com a qual Marcelo vinha trabalhando nos últimos anos: prazer e amizade.
Editores responsáveis: Cristiane Azevedo e Francisco de Moraes
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Revista Enunciação - V. 1, N.1 (2016)
Neste primeiro número da revista Enunciação, disponibilizamos ao leitor artigos elaborados pelos participantes do colóquio Filosofia e sentido histórico. O colóquio foi uma iniciativa do Grupo de pesquisa Noûs–Estudos de hermenêutica filosófica e de história da filosofia e do PPGFIL/UFRRJ, tendo ocorrido na UFRRJ, campus Seropédica, nos dias 14 e 15 de junho de 2016. Além de professores vinculados ao PPGFIL, mestrandos do programa e bolsistas de iniciação científica, também participaram do evento e enviaram seus artigos os professores Gilvan Fogel, professor titular da UFRJ, que proferiu o minicurso Que é filosofia?, e os professores Écio Elvis Pisetta (UNIRIO) e Ricardo Pedroza Vieira (CPII), que apresentaram palestras ao longo dos dois dias de duração do evento. Os artigos abordam, todos eles, temas relacionados à historicidade da existência humana e a seu modo próprio de constituição. Entre os filósofos abordados de maneira mais direta e detida estão Platão, Aristóteles, Nietzsche, Heidegger e o italiano Gianni Vattimo, além de outros tantos que são mencionados e discutidos oportunamente. Esperamos que tenha ficado visível o amadurecimento e a qualidade da pesquisa filosófica realizada no âmbito do PPGFIL/UFRRJ e a solidez da rede de colaboração com pesquisadores de outras instituições parceiras.
Editores responsáveis pelo número: Prof. Dr. Francisco José Dias de Moraes (UFRRJ) e Prof. Dr. Affonso Henrique Vieira da Costa(UFRRJ).