Revista Enunciação - v.3, n.2 (2018)
Este volume de Enunciação apresenta artigos de pesquisadores de universidades públicas, nacionais e internacionais. Sua temática tem como foco a filosofia antiga e um de seus desdobramentos na filosofia medieval. No texto de abertura, Alonso Tordesillas investiga as relações entre temporalidade e o acesso à ideia do Belo através do conceito platônico de exaiphnês, em particular no Banquete 210e. O filósofo argumenta que o ‘subitamente’, mesmo sendo um momento distinto em um processo no qual conhecemos algo, não pode ser pensado como separado deste; contrariando assim a interpretação tradicional, que, ao isolá-lo de seu contexto dialógico, o tem como conceito metafísico supremo, ‘fora do tempo’. No texto seguinte, Michele Corradi nos conduz pelos meandros das relações complexas entre literatura e filosofia, ao correlacionar o tipo de comunismo presente na Assembleia das mulheres de Aristófanes e suas relações com a forma de comunismo que Sócrates está propondo na Calipolis para os guardiães na República de Platão. M. Corradi, através de extensa e detalhada análise, nos mostra como a habilidade em criar analogias faz parte de uma ‘estratégia complexa’, ao mesmo tempo, literária e filosófica de Platão. No terceiro artigo, Edson P. de Resende sustenta que o começo da Metafísica 4 a 10-18 de Teofrasto, a aporia inicial da conexão entre sensível e inteligível, bem compreendida, pode indicar também novas pistas para interpretar, uma das muitas frases enigmáticas do livro Lambda, a frase final de Lambda 1. Na quarta contribuição, José Nicolao Julião revisita a clássica passagem da Poética 9 de Aristóteles, onde podemos ler a tese da ‘superioridade’ da poesia em relação à história. Ao fazê-lo, nos convida a repensar a ‘superioridade’ a partir de outro olhar conceitual. No aporte seguinte, Luciano Torcione Serra rastreia todo o campo da filosofia antiga, incluindo seus extremos, de Homero a Agostinho, para acompanhar as variações e oscilações de sentidos do quase-conceito de inclinação. No sexto artigo, Luiz Otávio Mantovaneli, partindo da teoria aristotélica das emoções, busca lançar uma nova luz no Éleos de Aquiles. No sétimo artigo, Lucio Lauro B. Massafferri Salles, a partir de um mapeamento investigativo das ocorrências do phármakon na medicina grega antiga e na ‘retórica’ de Górgias, traça as proximidades entre medicina e filosofia encontradas na Grécia Clássica. Na sequência anunciada, Markos Klemz argumenta que uma leitura fisicalista da relação entre cognição e a modificação fisiológica na sensação, diferentemente da leitura tradicional que se apoia na noção de recepção espiritual, não acarreta nenhum grau de dualismo à teoria tomista da percepção sensível. Este volume traz ainda para seus leitores uma tradução de um artigo de Pierre Aubenque, onde, mais uma vez, ele retorna, com novos argumentos, à tese do caráter aporético da metafísica de Aristóteles.
Boa leitura!
Edson Peixoto de Resende Filho