Revista Enunciação - v.4, n.1 (2019)
A presente edição da Revista Enunciação traz ao público artigos de participantes do 42os Encontros Nietzsche, o primeiro realizado em uma universidade da baixada fluminense, no belo campus de Seropédica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Organizado pelos professores da UFRRJ Danilo Bilate e José Nicolao Julião, o evento foi promovido pelo Grupo de Pesquisa Humanismo e pelo Grupo de Estudos Nietzsche (GEN). Esta edição publica, além de textos de palestrantes professores doutores já prestigiados no universo brasileiro de estudos nietzschianos, dois textos de mestrandos do PPGFIL-UFRRJ, que apresentaram comunicações no mesmo evento, o que evidencia o caráter democrático do periódico, bem como a opção consciente e engajada de permitir-lhes o acesso ao público que lhes é merecido. Fecha a edição uma resenha sobre a publicação francesa dos poemas de Nietzsche.
A escolha para a capa da gravura renascentista de Albrecht Dürer, O cavaleiro, a morte e o diabo, de 1513 não tem nada de acidental. Muito admirada por Nietzsche, foi por ele dada de presente a Richard Wagner (como demonstra uma carta às suas irmã e mãe de 23 de dezembro de 1870) e a sua irmã, como presente de casamento (como sugere carta a Overbeck de 7 de maio de 1885). Inversamente, foi ele presentado com uma cópia da mesma por Adolf Vischer, pelo que Nietzsche demonstra bastante alegria em cartas à sua mãe (12 de março de 1875), à sua irmã (26 de março de 1875) e, por último, à Malwida von Meysenbug (pouco após 20 de março de 1875), onde ele lembra ter relacionado a figura do cavaleiro a Schopenhauer – e isso, sabemos, em O nascimento da tragédia, §20: “Nosso Schopenhauer foi esse cavaleiro de Dürer: toda esperança lhe faltava, mas ele desejava a verdade”.
De muitas interpretações possíveis – como a mais usual, que a relaciona ao Salmo 23, como o próprio Vischer sugeriu no verso de seu presente –, preferimos compreendê-la como um símbolo de coragem trágica daquele que escolhe enfrentar, altivo, as vicissitudes terríveis da vida. Mais do que uma exortação do amor fati ou do pessimismo da fortitude – Nietzsche a considerava como “símbolo de nossa existência” (fragmento póstumo 9[85] de 1871) –, ela serve para representar, com muita modéstia, a opção por pensar criticamente, a despeito do sombrio contexto histórico que é o nosso. Como as possibilidades de interpretação são variadas, que fique ao caro leitor o convite para sugerir o personagem que quiser tanto à morte quanto ao diabo.
Editor responsável: Danilo Bilate