A crítica feminista ao humano universal
DOI :
https://doi.org/10.61378/enun.v8i1.177Mots-clés :
Feminismo; Humano Universal; Corpo; CânoneRésumé
O presente artigo aborda a crítica feminista à universalização da categoria “humano”, mostrando como esta foi construída sob um dualismo hierarquizado entre razão-corpo a partir do qual se estabeleceu a correlação com uma oposição entre masculino e feminino. O primeiro propriamente humano, distinto da natureza, o segundo ligado ao domínio natural. Correlação que foi estendida aos povos colonizados/racializados, aos proletários, às classes marginalizadas, oprimidas. Buscaremos, neste sentido, identificar como essa categoria de humano universal emerge nos cânones da filosofia ocidental e como tal concepção implica, como observou Elizabeth Spelman, numa somatofobia (hostilidade contra o corpo), misoginia (hostilidade contra as mulheres) e racismo, e como tais elementos serão oportunizados e operacionalizados pela lógica de dominação do capital. Por fim, analisaremos como pensadoras feministas, tais como Heleieth Saffioti, Lélia Gonzalez e Silvia Federici efetuaram a crítica à concepção universalista do humano sem colocar a corporeidade sob suspeita, mas, ao contrário abordando como o dualismo hierarquizado entre mente e corpo (e seus seguimentos entre humano/natureza, civilizado/primitivo etc.) foi e permanece sendo estrategicamente utilizado como ferramenta de exclusão, opressão, usurpação e exploração.
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