Este trabalho tem como ponto de partida a obra do filósofo italiano Enrico Berti. Especialista em Aristóteles, o professor Berti publicou em 2017, na Itália, uma nova tradução da Metafísica. Na introdução da obra, ele afirma que a compreensão de toda a Metafísica está, de certo modo, comprometida pelo viés estabelecido na compilação e nos comentários feitos por Alexandre de Afrodisia, quando fez sua edição da obra Metafísica de Aristóteles (século II d.C.), à qual adicionou seus comentários. Neste sentido, os principais temas e conceitos da obra que hoje possuímos são devedores de muitas interpretações posteriores que tomaram o trabalho dele com referência. É por causa dessa leitura que, segundo Berti, teríamos uma visão da Metafísica como ciência ontológica, bem como a ideia de que a teologia racional é um dos temas fundamentais da obra, ou seja, uma base filosófica e racional para a questão de Deus. Contudo, na proposta de Berti, um olhar mais atento e uma leitura do texto sem a influência de Alexandre conduz ao Aristóteles assim dito por ele original. Ao se debruçar sobre o texto grego, e graças aos mais recentes estudos, ele argumenta afirmando que a Metafísica não seria nem uma ontologia no sentido tradicional atribuído ao termo pela esmagadora maioria dos filósofos até hoje, nem uma teologia racional, cujo objeto divino é fundamento para a compreensão do Deus das grandes religiões monoteístas.
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